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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Células tronco

Na semana passada aconteceu o primeiro Congresso anual de cientistas que foram financiados pelo Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia (Cirm) (www.cirm.ca.gov). Para relembrar o leitor, o Cirm foi criado para administrar os 3 bilhões de dólares que os eleitores da Califórnia aprovaram para financiamento através da proposição 71. Todo esse dinheiro foi para a pesquisa em células-tronco (principalmente nas embrionárias humanas, não aprovadas pelo digníssimo presidente Bush) e com foco especial no desenvolvimento de novas terapias celulares. O Cirm é uma estratégia nova e corajosa em ciência, um experimento que nunca havia sido feito no mundo. Só o tempo vai revelar o impacto desse ensaio para a ciência mundial.

O CIRM criou diversas bolsas para distribuir essa quantia entre os pesquisadores californianos. Dentre elas: bolsas para pós-doutoramento, financiamento para projetos “semente” (para pesquisadores que gostariam de começar a trabalhar com células-tronco, mas sem experiência prévia), para projetos “abrangentes” (entram aí os pesquisadores já estabelecidos na área), além de financiamentos para infra-estrutura de novos institutos.

A novidade vem nas bolsas para firmas de biotecnologia e bolsas para estudo de ética e divulgação científica. Uma grande parte dos esforços (e dinheiro) do Cirm está indo pra ensinar e explicar para população da Califórnia o que está sendo feito com o dinheiro investido. Além disso, existe um grande empenho em treinar todos os pesquisadores em questões éticas sobre o cultivo e aplicação de células-tronco em terapias com humanos. O Cirm tem como ideal curar pelo menos uma doença humana utilizando células-tronco nos próximos dez anos e não vai medir esforços para chegar lá. A conseqüência é que parcerias entre empresas e academia são muito bem-vindas e estão gerando resultados surpreendentes.

Foram quase três dias de conferências em San Francisco (sede do Cirm). O tema central da conferência foi como traduzir os resultados da pesquisa básica (que, após quatro anos, começam a aparecer) para a clínica. Em outras palavras: como levar a ciência do laboratório para o paciente. Um exemplo clássico instigador de discussões foi a pesquisa feita em colaboração com a Universidade da Califórnia e a empresa Novocell (sediada em San Diego). Basicamente, a Novocell foi responsável pela produção de ilhotas pancreáticas produtoras de insulina partir de células-tronco embrionárias humanas e o laboratório do pesquisador Jeff Bluestone foi o responsável pelo transplante das células em camundongos (dados ainda inéditos).

A primeira observação que os pesquisadores fizeram foi: as ilhotas humanas eram totalmente destruídas pelo sistema imune dos camundongos. O próximo passo foi transplantar as ilhotas humanas em camundongos tratados com drogas imunossupressoras. Isso funcionou melhor, e a maioria dos camundongos diabéticos ficou curada. Mas houve um pequeno problema: uma porcentagem baixa de camundongos transplantados desenvolveu tumores. A lição que os pesquisadores aprenderam é que a imunossupressão tem de ser milimetricamente calculada, para não permitir que os tumores apareçam. O balanço é mais complicado do que parece: excesso de resposta imune ataca as células transplantadas; pouca resposta imune pode permitir que algumas células indiferenciadas proliferem e formem tumores. Não preciso dizer que o Cirm agora está apoiando (e muito) imunologistas a entrarem na área de células-tronco.

Outra palestra bem interessante foi a do pesquisador convidado Anthony Atala (Wake Forest University Baptist Medical Center, na Carolina do Norte). Esse médico já está fazendo ensaios clínicos em pacientes com células-tronco autólogas, ou seja do próprio paciente. Basicamente, ele coleta células-tronco do tecido a ser tratado (exemplo: rim ou bexiga) e as adiciona em matrizes de sustentação (compostas por colágeno, por exemplo). Nesse momento as células começam a se organizar tridimensionalmente e formar o órgão, ainda que rudimentar.

O que Atala reforçou é que essa é justamente a hora certa de se fazer um transplante, quando o órgão ainda não está totalmente formado. Segundo ele, “o corpo é a melhor incubadora”, e o órgão tem mais chances de se adaptar ao novo ambiente quando ainda imaturo. Para Atala, essa nova tecnologia tem possibilidades de ser mais usada no futuro do que transplantes de órgãos, uma vez que o novo órgão é construído em laboratório com as células do próprio paciente e não vem pronto de um doador. Claro que tudo isso vai depender da complexidade do órgão e da urgência que a pessoa precisa do transplante, mas já é um grande passo para a terapia celular.

O Cirm também está muito interessado em estudar o potencial terapêutico das células pluripotentes induzidas, ou células iPS. As notórias células iPS foram primeiramente geradas pelo pesquisador japonês Shinya Yamanaka e se constituem basicamente de células adultas de uma pessoa (da pele, por exemplo) que são geneticamente reprogramadas para ter as mesmas características das embrionárias (assunto já tratado nas colunas anteriores).

Essa tecnologia tem um grande potencial terapêutico, por duas razões: células reprogramadas não gerariam resposta imune, pois a mesma pessoa que doa a célula vai receber o transplante; elas representam um enorme potencial de estudo de doenças onde não existem modelos animais definidos, como autismo e esquizofrenia. Pela primeira vez poderemos estudar um neurônio autista em laboratório.

Pois bem, antes de mais nada, temos de descobrir se as tais das células iPS realmente se parecem com as células-tronco embrionárias humanas. Foi exatamente por essa razão que o Cirm convidou o pesquisador do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, Konrad Hochedlinger, para falar de suas pesquisas. Recentemente Hochedlinger e colaboradores publicaram um artigo na prestigiosa revista “Cell” em que 11 pacientes com diferentes doenças (distrofia muscular, síndrome de Down, Parkinson, diabetes, entre outras) tiveram suas células da pele reprogramadas.

Ao comparar o comportamento das células iPS com o das células-tronco embrionárias humanas já existentes, os pesquisadores não observaram grandes diferenças no perfil genético. Portanto, pode-se concluir que as células iPS são iguais às embrionárias e poderiam ser usadas para a terapia, certo? Errado! Os novos resultados de Hochedlinger indicam que as iPS e as embrionárias humanas são bem parecidas enquanto estão no estado indiferenciado, mas o seu potencial de diferenciação é diferente.

Eu explico: quando os pesquisadores tentaram diferenciar lado a lado uma linhagem estabelecida das embrionárias e uma linhagem de iPS em cardiomiócitos pulsantes (células musculares do coração que têm a habilidade de se contrair e pulsar espontaneamente), as embrionárias humanas geraram cardiomiócitos muito melhores e que pulsavam por muito mais tempo. Ou seja, as iPS não são exatamente iguais às embrionárias humanas quando diferenciadas… Ainda não está claro se a razão dessas diferenças é devido à técnica e pode ser resolvida com modificações no protocolo de reprogramação, ou se elas são intrínsecas das iPS.

Resumindo, as principais questões que estão em voga atualmente com relação ao potencial terapêutico das células-tronco embrionárias humanas são: tolerância do organismo e resposta imune, transplante de órgão maduro ou primitivo, transplante usando células iPS versus células-tronco embrionárias humanas. Por enquanto, o Cirm tem optado por financiar excelência cientifica, independente do modelo escolhido… E estão certíssimos, pois ninguém sabe exatamente qual vai ser o melhor uso das células-tronco em terapia. Além disso, é bem provável que as iPS funcionem bem para um tipo de doença e as embrionárias humanas tradicionais para outro. Ainda não é o momento de fechar nenhuma porta científica. Mas uma coisa é certa: ainda não estamos prontos para uma terapia celular no ano que vem, mas o Cirm já está cogitando terapias acessíveis nos próximos 5 anos. Eu boto fé.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meu espaço

Quando eu vim morar neste prédio aqui, foi como um sonho daqueles bem gordos finalmente se realizando, pois eu já amava esse lugar há muitos, muitos anos. Meu predinho é conhecido por toda a região, porque faz parte de um conjunto de outros dez ou doze, espalhados por várias ruas, que nos anos 50 abrigavam trabalhadores da Hípica Paulista. De construção antiga, tombada, ele tem paredes com dois palmos de grossura, pé-direito pra lá dos 3 metros, “sacada de festa” – daquelas em que cabe realmente mesa, cadeira, rede e uma pá de vasinhos de flor. Meu prédio só tem dois andares e garagem pra alguns carros. E tem um jardim daqueles com mureta baixa que dão pra rua. Jardim esse que, até hoje, tinha virado depósito de bitucas de cigarro, banheiro de gatinhos perdidos, residência de duas árvores mortas e vergonha da vizinhança. Mas tudo mudou.

Como já devo ter contado umas 1.462 vezes aqui (talvez pra me auto-convencer que não é um pesadelo total), eu sou síndica do meu predinho. Em geral, eu confesso: não é lá tão ruim. O título veio como obrigação, porque os outros cinco apartamentos são alugados – e inquilino não dá pitaco, que dirá se elege líder. Então eu sou, há quatro anos e meio, a Bruxa do 5. E o jardim sempre esteve na minha mira.

Já que o Sr. Wonka também é um doido varrido louco por melhorias, não sossegamos desde os primeiros meses aqui. Nesse tempo, já trocamos o portão carcomido da garagem por um novo, eletrônico; Implantamos a reciclagem de lixo; Abrimos uma porta de passagem do hall do térreo para o estacionamento, eliminando a necessidade de (que ridículo) dar a volta em tooodo o edifício pra entrar em casa; Pintamos por dentro; Pintamos por fora; Reformamos a calçada ao gosto do Kassab.

Depois de tantas melhorias, juntamos dinheiro tudo de novo para a tão sonhada reforma do jardim. Porque, francamente, ele implorava por isso – e nós já não agüentávamos mais a cara de nojo das velhinhas jardineiras do bairro ao passar pela nossa entrada. Pois o dinheiro foi angariado, contrato fechado, plantas compradas... tudo foi podado, retirado, replantado, iluminado e virou paisagem em uma semana. Ficou bonitinho, viu? Com uma cascata, virava a Casa da Dinda!

Claro que não foi tão simples assim. Já no primeiro dia teve gente se indignando. Nunca imaginei tanto bate-boca por causa quatro (qua-tro, 4!) galhos podados da árvore que crescia desembestada. Houve grito, gente sacando câmeras e registrando o “absurdo”, uma suposta denúncia na Prefeitura. Era “eu sou do Partido Verde!” pra todo lado. Gozado é que, em 50 anos, ninguém do Partido Verde desceu as escadas com uma pá pra melhorar o pobre e exilado jardim. Eu acho que o Partido Verde podia dar aos seus associados uma bela de uma enxada pra pegar no pesado, viu. Muito bonita a teoria, mas ação que é bom...

Passado o forrobodó – do qual até hoje eu guardo seqüelas, como uma revolta bem grande por ter sido tachada como a Síndica Moto-Serra – o jardim seguiu se melhorando. E impactando. Em sete dias, dezenas de pessoas pararam ali pra conferir. Uns diziam “até que enfim estão arrumando isso aí, hein!?”, enquanto outros queriam o cartão do jardineiro ou perguntar se tinha licença pra podar a árvore (quatro galhos, 4...).

Percebi o quanto uma diminuta área verde pode, hoje, causar um baque nas pessoas. De horror inflamado a lágrimas de alegria, vi todos os transeuntes serem tocados pela kaizuca, pela grama preta, pelo rabo-de-gato, pela ixora, pela pitangueira em pleno furor frutífero. Percebi que, talvez, em umas décadas atrás, o povo passaria ali sem dar trela, achando mais é que podia concretar a área toda e abrir duas vagas pra carro no lugar. Percebi que um pouco de verde, mesmo que privado e ornamental, toca muita gente. E, então, fiquei ainda mais orgulhosa de termos recuperado nosso amado jardim.

Ontem encontrei e recolhi uma bituca de cigarro na grama nova. Mas o trabalho realizado vai muito além de quem fez isso.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pai de Eloá

O pai da menina Eloá Cristina Pimentel, que diz se chamar Aldo José da Silva, é procurado pela Justiça do Alagoas - segundo a Polícia Civil do Estado - por envolvimento com a "gangue fardada", roubo de cargas e outros crimes.

Veja a retrospectiva do caso em vídeo

Futura Press

Pai de Eloá no 1º dia do sequestro

Eloá morreu no último sábado após o ex-namorado Lindemberg Alves, que a manteve refém por cerca de 100 horas, ter disparado um tiro na cabeça e outro perto da virilha da jovem. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

Ainda de acordo com a polícia do Estado, em entrevista ao Último Segundo, o nome do pai é, na verdade, Everaldo Pereira dos Santos e ele é procurado desde 1993, quando mudou para São Paulo e foi expulso da Polícia Militar (PM).

A polícia teria reconhecido Silva durante o seqüestro da filha. Ele passou mal e apareceu nas redes de TV carregado numa maca. O promotor de Justiça Luiz Vasconcelos, que atua na 9ª Vara Criminal de Maceió, disse que "oficiosamente" está confirmado que se trata da mesma pessoa.

A "Gangue fardada" é suspeita de participar do assassinato do delegado Ricardo Lessa, irmão do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), em 1991.

Na época do crime, em Maceió, além do delegado, foi morto também seu motorista Antenor Carlota. Segundo a polícia, os crimes teriam sido cometidos sob o comando do ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante, que se encontra detido no presídio militar do Rio de Janeiro.

Além do ex-cabo Everaldo e do ex-tenente-coronel Cavalcante, figuram como réus no processo do caso Ricardo Lessa: Valdomiro dos Santos Barros, Valmir dos Santos, José Carlos de Oliveira, José Luiz da Silva Filho, Aderildo Mariz Ferreira, Cicero Felizardo dos Santos, Edgar Romero de Morais Barros.

Segundo o promotor Luiz Vasconcelos, contra Everaldo consta inclusive um mandado de prisão reeditado em 21 de julho de 2008, pelo juiz Geraldo Amorim, da 9ª Vara Criminal do Fórum de Maceió, a respeito do assassinato de Ricardo Lessa.

"O trabalho da Justiça foi feito, foi expedido um mandado de prisão, agora cabe à polícia cumprir a parte dela, entrando em contato com São Paulo para confirmar se esse Aldo é mesmo ex-cabo Everaldo", afirmou Luiz Vasconcelos, acrescentando ainda que tomou conhecimento que a família do ex-cabo Everaldo teria confirmado que o ex-militar seria o pai da garota Eloá. "Por isso que o pai não queria aparecer, só a mãe da garota aparecia. Como não compareceu ao velório, pode ser até que esteja foragido de novo", acrescentou o promotor.

Despedida

O corpo da estudante Eloá foi enterrado, por volta das 9h30 desta terça-feira, no Cemitério de Santo André, localizado na Grande São Paulo, acompanhado por uma multidão.

Segundo informações da Guarda Civil Metropolitana, pelo menos 12 mil pessoas acompanharam o enterro. Emocionada, a multidão aplaudiu muito a chegada do caixão, mas se manteve em silêncio durante a cerimônia. Alguns vestiam camiseta com o rosto da jovem estampado. O pai da adolescente não participou da cerimônia, pois, segundo amigos, não se sentiu bem e precisou ser levado para o hospital. Ana Cristina, mãe de Eloá, ficou a cerimônia toda ao lado dos filhos.

Durante o velório, Ana Cristina fez um rápido pronunciamento à imprensa. Ela disse que perdoa Lindemberg Alves, que está detido na Penitenciária de Tremembé, interior de São Paulo. "Eu perdôo Lindemberg, mas espero que a justiça seja feita", afirmou.

AE

Multidão acompanha velório e enterro de Eloá Pimentel em Santo André

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Preconceito

Inserção do PT na TV indaga se o prefeito Gilberto Kassab é casado e tem filhos. A cidade inteira sabe que a resposta é “não” e “não”. Então por que a pergunta? É óbvio que se tenta fazer um questionamento sub-reptício, covarde como sói na turma, sobre a sua sexualidade, que não interessa a ninguém, a não ser a ele próprio. Seria ridículo sustentar isso ou aquilo, asseverar esta ou aquela condição. Corresponderia a fazer o jogo da canalha que tenta transformar preconceitos em escolha política.

E se ele fosse gay? Isso o impediria de ser o grande prefeito que é? O PT chafurda na lama, na propaganda mais odienta, na escolha mais desprezível, na discriminação mais asquerosa. Ao mesmo tempo em que assim procede, tenta criminalizar o DEM, como se o partido não tivesse direito de existir. É o fim da linha. No partido de Celso Daniel, de Santo André, e de Toninho do PT, de Campinas, tudo é permitido, tudo vale, tudo pode. Eis a campanha que está sob o gerenciamento de Gilberto Carvalho, braço direito de Lula — o mesmo Carvalho que era braço direito de… Celso Daniel.

Alguém poderia indagar: “Mas a própria Marta não foi vitima de preconceito por ter-se separado de Eduardo Suplicy e casado com o argentino Felipe Belisário Wermus?” Eu acho que sim. Já escrevi isso aqui. E também observei à época que seus acertos e seus erros nada tinham a ver com a sua opção. Mas há algumas diferenças aí. Quem levou o drama de alcova do trio para a praça pública foi um dos vértices do triângulo

domingo, 12 de outubro de 2008

Paulo Autran

Chego do velório e percebo que Paulo Autran morreu no Dia da Criança. Não poderia ter escolhido dia melhor. Talvez seja por isso que esse “ator/símbolo de si mesmo” tenha escolhido um dia como esse e tenha deixado sua mulher, Karin Rodrigues, com um sorriso lindo estampado na cara.

Num momento relaxado, indo buscar sua Karin na peça “O Médico e o Monstro” (há mais de dez anos), ele, Ney Latorraca e eu só falávamos cretinices. Sugeri que fôssemos visitar Haroldo de Campos, que morava a três quarteirões do Tuca, e Paulo brincou: “Mas eu tenho que me vestir de “concreto”? Símbolos? Há um mês e meio, ele estava sentado na minha platéia no Sesc Anchieta, numa quarta-feira, justamente duas semanas depois que ele mesmo havia sido “tombado” enquanto vivo, o que é raríssimo.

Sim, o visionário Danilo Santos de Miranda resolveu transformar o teatro do Sesc Pinheiros em teatro Paulo Autran. E o próprio Paulo pediu que fosse o grandíssimo Marco Nanini quem fizesse as cerimônias da ocasião. Assim como no filme “Quero Ser John Malkovich”, agora, finalmente, podia se “estar dentro” de Paulo Autran pagando ingresso. Ele riu disso entre um trago e outro (maldito cigarro!) enquanto discutíamos algo sobre o Terceiro Reich.

“Estar dentro”, dizia Paulo, “tem muitas conotações”. E ríamos… O espetáculo que acabara de ver era o meu “Rainha Mentira” e lidava com campos de concentração, mas o sempre bem-humorado intérprete (diferente de ator que representa) estava se referindo a coisas mais leves, obviamente. Sempre estive ao lado desse homem, e sempre “combinamos algo pra daqui a um ano” mas nunca compartilhamos o palco. Curioso. Fomos até chamados de “elitistas” pelo atual ministro da Cultura.

O restaurante Piselli era o nosso cruzamento acidental mais freqüente em Sampa e lá falávamos de tudo, assim como fazíamos ao longo desses 23 anos, desde a casa de Tonia Carrero, quando eu a dirigia (junto com Sergio Britto, em “Quartett”, de Heiner Mueller), em sua própria minimansão, onde Paulo e Karin se hospedavam, no Rio.

Ator erudito

Ele era um ator e não um representador. Era um intérprete, alguém que vive em todas as épocas, especialmente no futuro e vê tudo no passado. Paulo é, ainda no presente, um educador, um erudito como poucos nesta classe teatral. Ao contrário de tantos que andam por aí, com ele as conversas podiam perambular entre as razões da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, os filósofos gregos, a queda do Império Romano, a divisão da China pós-Revolução Cultural de Mao…

E seu registro de voz era estranhíssimo. Fora da língua portuguesa, digo, brasileira. Ele falava exatamente no mesmo registro (”pitch”) que Laurence Olivier. E, assim como uma criança, tinha a curiosidade de olhar para o céu e observar estrelas. Mas no teatro transformava as estrelas em refletores e nos devolvia a luz de uma lâmpada que batia em sua pupila e nos fisgava, não importa em que ponto ou fundura do palco ele se encontrava. Truques de grandes mestres, já que carisma não se explica.

Ele olhava a imensidão do universo com a mesma intensidade que o urdimento do teatro. Essa vivência é muito difícil de explicar. Mas Paulo será muito difícil de explicar porque, mesmo enfermo, ele não parava de ir ao teatro, de querer enxergar novos talentos, de querer estar no palco por eles, ou melhor, através deles.

O ator morre todos os dias, no momento em que se veste de personagem. Morre de novo quando o personagem morre ou quando a cortina fecha ou quando o público o aplaude ou na solidão do seu camarim.

Quem morreu na última sexta foi uma grandiosa criança chamada Paulo Autran, cujo legado não nos deixará nunca.

Quem sabe ele está estudando um novo método qualquer pra poder nos surpreender novamente. Vai com Deus, meu querido. Fique em paz!

GERALD THOMAS é autor e diretor de teatro

sábado, 11 de outubro de 2008

Gabeira

Se eu tivesse que comparar o Gabeira a qualquer “ser” ou personagem teatral da História dramatúrgica, sinceramente? Não conseguiria. Não existem paralelos.

Esse homem é um ser iluminado, em todos os sentidos. Já foi taxado disso e daquilo pela direita, pela esquerda, por cima, por baixo, já foi chamado de viado, de cachorro, de tudo: no entanto está de pé, assim como a cultura cigana.

“Bury me Standing” de Isabel Fonseca, escritora Americana, (acho que ainda) casada com o autor inglês Martin Amis… enfim, “Bury me standing” vem de me enterrem de pé!, um velho comando, ou dizer, ou expressão usada pelos nômades que, de tempos em tempos, sofrem um holocaustozinho em diversos paises.

Pela lógica, Fernando Gabeira jamais poderia estar onde está agora, ou seja, vencendo e glorioso. Já o odiaram por ter voltado do exílio usando uma sunga mínima (um insulto pra esquerda), já o insultaram por querer se “intrometer” a defender causas que não lhe diziam respeito, como os negros e os homosexuais. Talvez, seguindo essa mesma lógica, talvez o Gabeira seja a única e REAL ponte que cubra esse “canyon” ridículo que ainda insiste em dividir pessoas entre direita e esquerda. Gabeira parece aquele que já atravessou o Checkpoint Charlie da (ex) Alemanha Oriental para a Ocidental com um sorriso na cara como se quizesse dizer: GENTE IMBECIL! Criando MUROS! Criando MURALHAS! Criando barreiras! O Gabeira que eu conheço pessoalmente há… há (ufa! 30 e poucos anos) sempre foi um LIBERTADOR!.

Mas vejam só que engraçado: certa vez, como correspondente da Folha em Berlim, ainda casado com a Yame, Gabeira vem para cobrir uma ópera que eu estava dirigindo em Stuttgart (Perseo e Andrômeda – John Neshling fez a crítica para o mesmo jornal – 1990). Pegou o trem, era inverno, tudo atrasou, chegou afobado… pediu uma tomada para plugar o computador. Naquela época não era internet ainda. Mandava-se matéria para uma central, sei lá como…

Mandou a coluna. Jantamos. Pegou o trem de volta para Berlim.

Anos antes disso: nos encontrávamos com muitíssima freqüência num restaurante macrobiótico no Leblon. Mastigávamos e mastigávamos e mastigávamos… Ruminávamos e ficávamos nos perguntando por que diabos um restaurante macro (um sobrado) ficava justamente em cima de um açougue!!!!!

Anos antes disso: Gabeira no exílio e eu sentado em Londres na sede da Amnesty International. Ele já não querendo muito contato com o “Que é Isso, Companheiro?”

E assim que o filme foi lançado, nos cruzávamos e, ambos de bico calado. A Nanda fez o filme, acompanhei de perto a tragédia filmada de um livro tão legal.

Fui em sua casa certa vez na Lagoa. Depois se mudou pro Bairro Peixoto, gravei uma entrevista. E tivemos um ÓTIMO debate sobre terrorismo, logo assim que voltei de NY após os ataques de 11 de setembro.

O Rio não pode AFFORD NOT TO, não pode se dar ao LUXO DE NÃO TER o Gabeira, sendo o Rio o que ele é.

E por quê? Porque um é a cara do outro! Se você tenta pegar o Gabeira com ecologia ele te devolve algo sobre supercondutores. Se você quer falar sobre política ele te responderá alguma coisa na linha da cultura eclética dos pós-semiólogos egípcios. Se você colocá-lo na mira em relação a qualquer assunto ele te devolve dez sobre os quais você simplesmente nada sabe ou sabe pouco.

E essa é justamente a natureza do carioca: a do samba, a do segundo surdo que entrecorta o samba e cria aquele falso desequilíbrio que faz com que a avenida inteira se sinta na ponta do pé e dance a noite inteira e rebole sem saber como está rebolando.

Ah… você está pensando… Farra? Não senhor! Essa é justamente a ARTE do equilíbrio de um EXIMIO político com vivência INTERNACIONAL pronto para enfrentar uma cidade aos pedaços, mas, nem por isso, menos cosmopolita.

E se você pedir um simples abraço ao Fernando, ele vai abraçar a Lagoa inteira!!!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Segundo turno

Enquanto os paulistanos tiveram de escolher entre várias opções de “mais do mesmo”, os cariocas mais uma vez deram uma lição de ousadia. O jornalista Fernando Gabeira, candidato pelo Partido Verde, vai para o segundo turno das eleições para prefeito da cidade do Rio de Janeiro e, na capital paulista, o atual prefeito Gilberto Kassab sai na frente da ex-prefita Marta Suplicy, do PT e do ex-governador Geraldo Alkmim, do PSDB. Gabeira vai ter de disputar com o peemedebista Eduardo Paes.

A história política de Gabeira é uma verdadeira odisséia, que começa com seu envolvimento no primeiro seqüestro de embaixador no mundo, o do norte-americano Charles Burke Elbrik, em setembro de 1969. Na época o Brasil vivia um dos períodos mais negros de sua história, com prisões arbitrárias, tortura e morte de oposicionistas por parte dos militares que ocupavam o poder. O seqüestro foi a maneira encontrada por um grupo de oposicionistas para conseguir negociar com a ditadura a libertação de companheiros presos.

Anos depois, anistiado, Gabeira tornou-se um político respeitado, capaz de enfrentar o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, de dedo em riste, mandando-o “recolher-se à sua insignificância”. O episódio pode ser revisto em vídeo no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=cy-OJIUFM8I . Cavalcanti renunciou pouco depois para não ser cassado por corrupção. Defensor do casamento gay e da liberação da maconha, o candidato do Partido Verde à prefeitura do Rio chega ao segundo turno com a marca da vitória contra antigos preconceitos.

Muito diferente de Gabeira, Kassab, que está na frente em São Paulo, não tem uma história política tão contundente. Foi deputado federal com apoio da Associação Comercial de São Paulo e teve um papel ainda pouco claro na CPI instalada em 2003 para investigar a atuação da empresa Serasa e o controle de dados sigilosos de pessoas físicas e jurídicas. Foi vice-prefeito de José Serra e surge como nome de primeira grandeza apenas nesta eleição. O que os dois têm em comum? São candidatos apoiados pelo partido verde. O Atual secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge, é do Partido Verde, o mesmo de Gabeira. Além disso a campanha do Partido Verde em São Paulo direciona o apoio para prefeito para Gilberto Kassab.

São dois perfis diferentes, com ideologias certamente distintas, mas que podem levar o partido verde para um patamar de construção de políticas públicas nas duas principais cidades do país. É o mais próximo que o PV jamais esteve de exercer o poder.

Em um momento de tanta insegurança e incerteza em relação às políticas públicas para a gestão de grande metrópoles, o eleitor carioca está fazendo uma aposta interessante. Principalmente quando um dos mais preocupantes problemas globais está relacionado aos desafios impostos pelo meio ambiente.

 
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