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sábado, 5 de julho de 2008

O apagão da internet

São Sebastião (SP) - Poderia até ter servido de bela desculpa para não trabalhar. Mas o apagão da internet na quinta-feira, que tantos transtornos causou a meio mundo ligado na grande rede, como se os tubos de oxigênio tivessem pifado no hospital geral do mundo cibernático, nada teve a ver com o meu caso.
Com a agenda livre, compromissos profissionais todos cumpridos, já tinha tomado a decisão de viajar para a praia na quinta-feira. Até liguei o computador de manhã, sem precisar, e nada funcionava. Pensei que era só o meu que estava com problemas.
Sem estresse, na volta chamaria o velho Wilson, meu técnico japonês de estimação, para consertar, e fui-me embora para São Sebastião.
Trabalhando por conta própria, sem chefe nem patrão, há tempos vinha pensando em fazer isso, dar uma escapada no meio da semana, mas tinha um pouco de vergonha.
Como há tempos tinha deixado meu carro velho com a filha caçula, desde que fui morar nos Jardins, perto de tudo, e comecei a fazer minha vida a pé ou de táxi, sempre dependia da disponibilidade da mulher para viajar nos fins de semana. Os netos quase sempre tinham prioridade, eu dependia da agenda deles.
Agora, não. Depois de dez anos, criei coragem para comprar um carro novo e me senti livre para viajar quando quisesse. Vocês não podem - ou melhor, podem, sim - imaginar a sensação de liberdade que dá poder pegar a estrada num dia de semana, sem horário nem compromisso, só para passear.
Quando peguei a Imigrantes, me senti como se estivesse estreando meu primeiro carro, a exemplo de milhares de brasileiros nos últimos tempos. Pude acender um cigarro, ouvir música sertaneja, viajar sem ligar o ar condicionado, com os vidros abertos - tudo o que a minha mulher não gosta.
Deu para entender porque tantos conterrâneos fazem qualquer sacrifício para comprar um carro em mil prestações, mesmo um pau velho caindo aos pedaços, levando a indústria automobilística a bater sucessivos recordes.
É bom demais você poder parar na estrada onde der vontade, nem que seja só para olhar a paisagem com calma, ainda mais agora que até um singelo chopinho está proibido para quem dirige - o que, aliás, acho muito certo, sou plenamente a favor.
Por isso, assim que cheguei no Toque-Toque Pequeno, em São Sebastião, no litoral norte, fui direto ao Barracuda, o bar do meu amigo Renato, com todo o marzão à frente só para mim. Mas, em pleno inverno, acho que ele tirou férias, estava tudo fechado.
Sozinho no mundo, liguei logo para meu único irmão, o popular Alemão, que mora em São Sebastião, e só vai uma vez por mês para São Paulo, convidando-o para jantar. Sem mulher nem lépitópi, a solidão não demorou a bater.
Fui até o armazém do Boi, aonde pescadores, aposentados e pedreiros do condomínio costumam se encontrar para tomar cerveja nos finais de tarde, mas nem os bebuns de costume, nem o Boi, estavam lá.
Solitária, a balconista Nilda se queixava da falta de movimento, do silêncio, do marasmo absoluto da vida na praia nestes dias frios de julho - eram lamúrias no sentido inverso de quem precisa enfrentar o trânsito das seis da tarde em São Paulo.
Lembrei-me de dias iguais a esse, na virada para o ano 2000, quando vivia uma das minhas cíclicas crises profissionais e existenciais, e tinha decidido largar tudo para morar na praia.
Meu plano na época era escrever um livro chamado “Diário de um Vagabundo”, contando a rotina de um velho jornalista que se aposenta e passa a viver numa antiga aldeia de pescadores. Até já tinha arumado um editor, o Roberto Feith, da “Objetiva”.
Cheguei a tomar algumas notas para o livro, mas não agüentei nem dois meses. A cada semana, mais alguém ia embora da praia, o silêncio foi ficando ensurdecedor e, antes de março começar, já estava trabalhando outra vez na grande imprensa, com o Augusto Nunes, na revista “Época”.
Ainda bem que meu irmão aceitou o convite e veio para o jantar junto com a minha cunhada e os netos deles. Só então fiquei sabendo que também ele e o mundo tinham ficado o dia todo sem internet.
Como a energia elétrica e a água encanada, a gente só dá valor a essas coisas quando elas nos faltam. Liberdade é uma coisa muito boa, claro, mas quando vem acompanhada da solidão, ainda por cima sem internet, chega a dar medo.
O que fazer com tanto tempo livre? Uma vez, no ginásio, os padres me mandaram ler um livro chamado mais ou menos “Medo à liberdade”, não me lembro o autor (se algum leitor da coluna souber, por favor, informe aos outros).
Sem ter o que fazer, hoje vim para a Livraria Satélite, em São Sebastião, onde estou escrevendo a coluna, para não perder o hábito, depois de fazer a barba no salão do Toninho, ouvindo boa música ao vivo, tocada por três jovens no coreto da praça da Matriz, em plena hora do almoço de sexta-feira.
Tinha bastante gente nos bancos da praça ouvindo o trio de música instrumental, o que aliviou um pouco a minha consciência, já não me sentindo mais o único vagabundo da cidade.
Só não consegui descobrir porque chorava tanto a moça bonita que falava ao celular num cantinho da praça, ao lado da igreja. O dia estava tão bonito, o sol apareceu, casais caminhavam lentamente de um lado para outro do calçadão.
Por um instante, me dei conta de que, como cantava Roberto Carlos, nos bons tempos da Jovem Guarda, a felicidade até existe. É só a gente procurar.

 
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