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segunda-feira, 23 de março de 2009

Zé Telles

desgraças, safadezas e maracutaias em geral, vou contar uma história hoje para mostrar como no Brasil ainda convivem os habitantes de dois países distintos sob o mesmo teto.

Zé Telles, 64 anos, lavrador aposentado , viúvo, pai de cinco filhos, um bando de netos e uma bisneta, é um desses milhões de brasileiros que não estão na mídia e vivem distantes das notícias de Brasília.

Vivem em outro mundo, nos interiores do Brasilzão velho de guerra, onde os jornais não chegam, com seus próprios valores, preocupações, sonhos, que nada têm a ver com os assuntos que costumamos tratar neste Balaio.

Zé Telles vive até hoje na roça, no mesmo lugar onde nasceu, às margens do rio Bonito, entre Porangaba e Bofete, a 160 quilômetros de São Paulo. Só sai de lá uma vez por ano para pegar o ônibus dos romeiros que vão a Aparecida rezar pela padroeira.

Seu Zé trabalha comigo há 30 anos, desde que comprei o Sítio Ferino em Porangaba. Pegou a terra nua, um deserto na época sem água e sem luz, e foi mudando a paisagem com as próprias mãos. Plantou milhares de árvores, criou bosques e animais, tinha um orgulho danado da sua obra.

Embora franzino, frágil mesmo, nenhum serviço ou contratempo na vida era capaz de derrubá-lo. De sol a sol, lá estava ele para cima e para baixo, tocando o gadinho, roçando, dando comida para a criação, cuidando dos seus afazeres.

Na semana passada, Zé Telles entregou os pontos. Há dias sem comer e sem dormir, sem conseguir trabalhar, desorientado, pela primeira vez na vida foi parar num hospital.

Diagnóstico: depressão profunda causada por um abalo moral que agrediu seus valores, segundo a neurologista, doutora Filomena, que cuidou muito bem dele no hospital público de Conchas, uma cidade vizinha.

Cerca de um mes atrás, ele começou a perceber que algumas coisas estavam sumindo do sítio, como uma velha seringa de vacinar o gado, um aparelho de rádio da minha filha caçula, essas coisas tão pequenas diante do que a gente lê todos os dias nos jornais.

O pior para ele foi descobrir quem era o autor destes furtos. Lourival, o caçula de Zé, que trabalha com ele, pegou em flagrante dentro da casa do caseiro o filho de um vizinho, adolescente muito estimado pela família.

Para ele, foi como se tivesse levado uma punhalada pelas costas porque aquele menino foi criado junto com seus filhos _ simplesmente, não se conformava, não conseguia entender o que aconteceu. Logo ele?

As relações de trabalho, vizinhança e compadrio, baseadas na lealdade e na solidariedade, são sagradas nestes sítios em que a palavra ainda vale mais do que os contratos, uma paisagem humana magistralmente descrita por mestre Antonio Cândido em seu clássico “Os Parceiros do Rio Bonito”, escrito há mais de meio século.

Tiraram o chão sob os pés onde ele pisou a vida toda e Zé Telles entrou em pânico. Achou que era o culpado pelo prejuízo, por não ter cuidado direito do sítio, começou a ter pesadelos de que seria mandado embora, sentia-se humilhado por não ter mais fôrças para seguir sua rotina de trabalho.

Ao encontrá-lo no sábado, na casa do filho, que também é nosso vizinho, só fazia chorar e balançar a cabeça. Ficava olhando para mim como quem espera uma explicação para o que estava acontecendo com ele. Os remédios de tarja preta, que nunca havia tomado na vida, o deixaram prostrado.

Zé Telles sempre foi um homem daqueles que se pode chamar de honesto, direito, probo, lhano, como se dizia antigamente, desses a quem você pode confiar a carteira ou os filhos para tomar conta.

Não estava preparado para os novos tempos e outros valores que estão chegando junto com o “progresso” a este Brasil real ainda habitado por muitos brasileiros como ele, cidadãos que ficam doentes quando vêem as coisas erradas.

 
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