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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Células tronco

Na semana passada aconteceu o primeiro Congresso anual de cientistas que foram financiados pelo Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia (Cirm) (www.cirm.ca.gov). Para relembrar o leitor, o Cirm foi criado para administrar os 3 bilhões de dólares que os eleitores da Califórnia aprovaram para financiamento através da proposição 71. Todo esse dinheiro foi para a pesquisa em células-tronco (principalmente nas embrionárias humanas, não aprovadas pelo digníssimo presidente Bush) e com foco especial no desenvolvimento de novas terapias celulares. O Cirm é uma estratégia nova e corajosa em ciência, um experimento que nunca havia sido feito no mundo. Só o tempo vai revelar o impacto desse ensaio para a ciência mundial.

O CIRM criou diversas bolsas para distribuir essa quantia entre os pesquisadores californianos. Dentre elas: bolsas para pós-doutoramento, financiamento para projetos “semente” (para pesquisadores que gostariam de começar a trabalhar com células-tronco, mas sem experiência prévia), para projetos “abrangentes” (entram aí os pesquisadores já estabelecidos na área), além de financiamentos para infra-estrutura de novos institutos.

A novidade vem nas bolsas para firmas de biotecnologia e bolsas para estudo de ética e divulgação científica. Uma grande parte dos esforços (e dinheiro) do Cirm está indo pra ensinar e explicar para população da Califórnia o que está sendo feito com o dinheiro investido. Além disso, existe um grande empenho em treinar todos os pesquisadores em questões éticas sobre o cultivo e aplicação de células-tronco em terapias com humanos. O Cirm tem como ideal curar pelo menos uma doença humana utilizando células-tronco nos próximos dez anos e não vai medir esforços para chegar lá. A conseqüência é que parcerias entre empresas e academia são muito bem-vindas e estão gerando resultados surpreendentes.

Foram quase três dias de conferências em San Francisco (sede do Cirm). O tema central da conferência foi como traduzir os resultados da pesquisa básica (que, após quatro anos, começam a aparecer) para a clínica. Em outras palavras: como levar a ciência do laboratório para o paciente. Um exemplo clássico instigador de discussões foi a pesquisa feita em colaboração com a Universidade da Califórnia e a empresa Novocell (sediada em San Diego). Basicamente, a Novocell foi responsável pela produção de ilhotas pancreáticas produtoras de insulina partir de células-tronco embrionárias humanas e o laboratório do pesquisador Jeff Bluestone foi o responsável pelo transplante das células em camundongos (dados ainda inéditos).

A primeira observação que os pesquisadores fizeram foi: as ilhotas humanas eram totalmente destruídas pelo sistema imune dos camundongos. O próximo passo foi transplantar as ilhotas humanas em camundongos tratados com drogas imunossupressoras. Isso funcionou melhor, e a maioria dos camundongos diabéticos ficou curada. Mas houve um pequeno problema: uma porcentagem baixa de camundongos transplantados desenvolveu tumores. A lição que os pesquisadores aprenderam é que a imunossupressão tem de ser milimetricamente calculada, para não permitir que os tumores apareçam. O balanço é mais complicado do que parece: excesso de resposta imune ataca as células transplantadas; pouca resposta imune pode permitir que algumas células indiferenciadas proliferem e formem tumores. Não preciso dizer que o Cirm agora está apoiando (e muito) imunologistas a entrarem na área de células-tronco.

Outra palestra bem interessante foi a do pesquisador convidado Anthony Atala (Wake Forest University Baptist Medical Center, na Carolina do Norte). Esse médico já está fazendo ensaios clínicos em pacientes com células-tronco autólogas, ou seja do próprio paciente. Basicamente, ele coleta células-tronco do tecido a ser tratado (exemplo: rim ou bexiga) e as adiciona em matrizes de sustentação (compostas por colágeno, por exemplo). Nesse momento as células começam a se organizar tridimensionalmente e formar o órgão, ainda que rudimentar.

O que Atala reforçou é que essa é justamente a hora certa de se fazer um transplante, quando o órgão ainda não está totalmente formado. Segundo ele, “o corpo é a melhor incubadora”, e o órgão tem mais chances de se adaptar ao novo ambiente quando ainda imaturo. Para Atala, essa nova tecnologia tem possibilidades de ser mais usada no futuro do que transplantes de órgãos, uma vez que o novo órgão é construído em laboratório com as células do próprio paciente e não vem pronto de um doador. Claro que tudo isso vai depender da complexidade do órgão e da urgência que a pessoa precisa do transplante, mas já é um grande passo para a terapia celular.

O Cirm também está muito interessado em estudar o potencial terapêutico das células pluripotentes induzidas, ou células iPS. As notórias células iPS foram primeiramente geradas pelo pesquisador japonês Shinya Yamanaka e se constituem basicamente de células adultas de uma pessoa (da pele, por exemplo) que são geneticamente reprogramadas para ter as mesmas características das embrionárias (assunto já tratado nas colunas anteriores).

Essa tecnologia tem um grande potencial terapêutico, por duas razões: células reprogramadas não gerariam resposta imune, pois a mesma pessoa que doa a célula vai receber o transplante; elas representam um enorme potencial de estudo de doenças onde não existem modelos animais definidos, como autismo e esquizofrenia. Pela primeira vez poderemos estudar um neurônio autista em laboratório.

Pois bem, antes de mais nada, temos de descobrir se as tais das células iPS realmente se parecem com as células-tronco embrionárias humanas. Foi exatamente por essa razão que o Cirm convidou o pesquisador do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, Konrad Hochedlinger, para falar de suas pesquisas. Recentemente Hochedlinger e colaboradores publicaram um artigo na prestigiosa revista “Cell” em que 11 pacientes com diferentes doenças (distrofia muscular, síndrome de Down, Parkinson, diabetes, entre outras) tiveram suas células da pele reprogramadas.

Ao comparar o comportamento das células iPS com o das células-tronco embrionárias humanas já existentes, os pesquisadores não observaram grandes diferenças no perfil genético. Portanto, pode-se concluir que as células iPS são iguais às embrionárias e poderiam ser usadas para a terapia, certo? Errado! Os novos resultados de Hochedlinger indicam que as iPS e as embrionárias humanas são bem parecidas enquanto estão no estado indiferenciado, mas o seu potencial de diferenciação é diferente.

Eu explico: quando os pesquisadores tentaram diferenciar lado a lado uma linhagem estabelecida das embrionárias e uma linhagem de iPS em cardiomiócitos pulsantes (células musculares do coração que têm a habilidade de se contrair e pulsar espontaneamente), as embrionárias humanas geraram cardiomiócitos muito melhores e que pulsavam por muito mais tempo. Ou seja, as iPS não são exatamente iguais às embrionárias humanas quando diferenciadas… Ainda não está claro se a razão dessas diferenças é devido à técnica e pode ser resolvida com modificações no protocolo de reprogramação, ou se elas são intrínsecas das iPS.

Resumindo, as principais questões que estão em voga atualmente com relação ao potencial terapêutico das células-tronco embrionárias humanas são: tolerância do organismo e resposta imune, transplante de órgão maduro ou primitivo, transplante usando células iPS versus células-tronco embrionárias humanas. Por enquanto, o Cirm tem optado por financiar excelência cientifica, independente do modelo escolhido… E estão certíssimos, pois ninguém sabe exatamente qual vai ser o melhor uso das células-tronco em terapia. Além disso, é bem provável que as iPS funcionem bem para um tipo de doença e as embrionárias humanas tradicionais para outro. Ainda não é o momento de fechar nenhuma porta científica. Mas uma coisa é certa: ainda não estamos prontos para uma terapia celular no ano que vem, mas o Cirm já está cogitando terapias acessíveis nos próximos 5 anos. Eu boto fé.

 
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