Caminho das Índias
Depois de assistir, atônito, a alguns capítulos de “Caminho das Índias”, chego enfim a um veredicto: a obra de Glória Perez ainda será descoberta no futuro, possivelmente por um crítico francês. As novelas da autora - em especial as suburbano-intercontinentais (”O Clone”, “América” e agora “Caminho das Índias”) - são tão radicalmente idiossincráticas, tão espetacularmente ilógicas… que elas simplesmente não permitem a apreciação devida no presente.
Glória Perez é como um Russ Meyer (”De Volta ao Vale das Bonecas”) ou um Ed Wood (”Plano 9 do Espaço Sideral”) da teledramaturgia nacional, um objeto não-identificado e não-classificável, dona de uma imaginação (fértil) e de um estilo (cafona) não exatamente à frente de seu tempo, mas certamente fora dele. Quem mais poderia escrever uma cena de Betty Goffman se passando por indiana ao som de Zé Ramalho cantando Bob Dylan em português? E quem seria capaz de cortar para André Gonçalves trabalhando como motorista em Dubai, e daí para Mara Manzan em uma pastelaria da Lapa? Glória Perez faz o mexicano Guillermo Arriaga (”Babel”) parecer meio lesado.
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